1. Outside

Vai chegar finalmente a vez de «Outside»? Sinto o aroma no ar, e fico feliz por isso. 

No comentário à morte de David Bowie, Brian Eno deixou que desde há um ano vinha falando com Bowie por iniciativa deste sobre pegar neste álbum ignorado e fazer dele qualquer coisa. Mike Garson fala de como David Bowie o chamou no ínicio dos anos 90 para retomarem uma colaboração que tinha sido interrompida muitos anos antes:
“His exact words to me when we reconnected were, ‘Mike, I wasn’t happy with a lot of the commercial things I did in the ’80s. I was being pressured by the record company, and I ended up compromising my integrity. So what I would like to do now is this wild, improvised kind of album where I pick all the people who have been my strongest influences, to take me out of my comfort zone,’” says Garson. “He chose me, Reeves Gabrels, and he chose Brian Eno, and we went over to Montreux and we improved for hours a day. We just played and played and played. We could do whatever we wanted. Day after day it was the wildest kind of creativity you could ask for. That became the albumOutside, which most people don’t know. He left us a lot of great music, and some of it people have never heard. Maybe now people will start looking at his back catalog. I sure hope so.”

Acordei para a música na segunda metade dos anos 80. Tinha dez anos em 1985. No período de gestação do meu gosto musical eu conheci a pior fase de David Bowie que incluiu Tonight, Never let me down e a Glass Spider Tour. Day in - day out terá sido a primeira canção na qual fixei o nome, e aquilo era do mais comercial que se fazia nos anos 80. Quando Bowie passou em Alvalade em 1990 vestido de colete e camisa de mangas de renda pareceu-me a confirmação de que se tratava de um grande artista comercial, com pouco interesse.

Terá sido em 94 ou 95 que vi um documentário da RTP sobre Bowie, apresentado pelo mais Bowieano dos Portugueses, Álvaro Costa. O documentário versava sobre a época de transição de Bowie de Black Tie White Noise para Buddha of Suburbia para Outside. Perante The Heart's Filthy Lesson ou Hallo Spaceboy o meu queixo caiu, e ainda mais quando percebi a linguagem visual e o conceito do álbum. 1. Outside foi o meu ponto de entrada no universo Bowie, e a minha passagem para aquilo que de grande ele tinha feito para trás.

Outside reúne tudo o que fez de Bowie um gigante. Bowie quis sair da sua zona de conforto, e deixou em choque os fãs angariados nos anos 80. Com Outside abraçou o universo Cyberpunk e chegou ao ponto de ter os Nine Inch Nails como banda de suporte na digressão americana.

Desde Outside, só Black Star tem comparação em WTF por minuto, até na infiltração do jazz na linguagem pop. Álbuns para expandir a mente, álbuns que nos fazem querer fazer qualquer coisa de criativo tal a sensação de espanto que provocam em nós.

Outside não foi um acaso, a nata dos colaboradores do passado estão lá: Brian Eno, Carlos Alomar, Mike Garson.

Ouviremos falar de Outside no futuro. Nunca deixou de ser o meu álbum favorito nos últimos 20 anos.




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