Renato Russo - Trovador Solitário



A música popular brasileira é tão rica e pejada de génios, que o rock brasileiro acaba por ser, pelo menos para fora do Brasil, uma nota de rodapé. Eu continuo a desconfiar de muito do rock brasileiro. Parece-me muito quadrado e pobre líricamente, e não precisava de o ser. A comparação na minha cabeça é com o que estou acostumado a ouvir - de Caetano Veloso a Chico Buarque; Chico César; Tom Zé; Ney Matogrosso. É injusta a comparação. Há no entanto dois fenómenos do rock brasileiro que me interessaram, ambos produtos do início dos anos 80, anos em que o país ainda estava sob ditadura militar. Ambos os vocalistas acabaram da mesma forma, cedendo às complicações do SIDA e até nisso seguindo as tendências desses anos 80. Falo de Cazuza, morto em 1990, um rebelde, e de Renato Russo, vocalista da Legião Urbana, morto em 1996. Li nos últimos dias a biografia deste último - uma biografia pobre, que explorou pouco as grandes influênicas literárias de Renato Russo(Russo é uma deturpação de Rousseau), espalhadas pelo texto como um tempero a gosto, quando na verdade são o ingrediente principal das incomuns boas letras que ofereceu ao rock brasileiro. Rousseau, Rimbaud, Fernando Pessoa, Blaise Pascal e muitos outros escritores, para além de muitas referências cinematográficas, enformaram muitas das melhores letras da Legião Urbana. Musicalmente, a música soa a 80’s, aos 80’s dos «The Cure», dos «The The», da «Joy Division» e muito notóriamente «The Smiths». Curiosamente, com muitos anos de distância, acabei por beber intelectualmente do mesmo poço mágico de escritores e músicos do qual Renato Russo bebeu - talvez tenhamos seguido as mesmas pistas deixadas nas biografias e entrevistas de Jim Morrison ou Lou Reed. O que me ficou da biografia e de Renato Russo e da audição da Legião Urbana? Algumas alegrias em algumas canções bem conseguidas, a pena de que Renato Russo não tenha escapado aos clichés do Rock, como a dependência de heroína. álcool e cocaína, e principalmente a pena de que no meio de todos os dados biográficos e anedotas da carreira da Legião Urbana não tenha emergido mais clara uma personalidade rica e complexa como a de Renato Russo. Nota: este texto também está publicado no meu Tumblr literário Cartas por enviar

Comentários

  1. Esse tinha um letrista de eleição, chamado Paulo Coelho.

    Era meio psicadélico, já ouvi mas não fiquei fã.

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  2. Ouvir a Legião Urbana é um pouco como ler este blog. As referências são parecidas e as letras estão pejadas de citações a bandas dos 80 e anteriores.

    Esta canção «Será» começa com «Tire suas mãos de mim, eu não pertenço a você», e o refrão de «Say hello, wave goodbye» dos Soft Cell é «Take your hands off me, I don't belong to you». Musicalmente tem um travozinho a «The Smiths», e encontras a cada passo referências e mais referências, citações e mais citações.

    Se é bom ou mau, não sei, é um estilo.

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  3. Até acho alguma piada ao Seixas. Tem 3 ou 4 que me lembram variações. Quanto à Legião Urbana, tenho uma opinião que é transversal a toda a cena Rock brasileira. Nunca tive conhecimento suficiente, nem nunca, do pouco que fui ouvindo, me interessei muito.

    Ficou agora a curiosidade para explorar mais um bocado.

    Por piada, a primeira vez que me lembro de ter ouvido falar da Legião Urbana foi num daqueles livros de banda desenhada da Turma da Mónica que abundavam lá por casa, o que me leva que tinham um sucesso massivo no Brasil, mesmo nunca tendo transbordado para cá.

    Fica aqui uma última palavra para os Titãs, que fiquei a conhecer (que ouvi, porque o nome já se tinha cruzado comigo algures no caminho) através de uma música que ouvi na voz na Marisa Monte e que me despertou algum interesse, "As Flores"

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