Mazgani, Guimarães e a América




Situemo-nos: Song of The New Heart é um excelente disco, melódico que flutua sobre ambientes melancólicos, onde notoriamente pairam os fantasmas de Leonard Cohen e principalmente Jeff Buckley.
Comparemos: Fiquei positivamente intrigado e um pouco curioso com Tell the People, o EP lançado pela Optimus Discos, onde o registo cru e sujo é bem diferente de Song of The New Heart.

Foi esta curiosidade que me levou na passada 6ª feira novamente ao CCVF para ver Mazgani a apresentar o novo Song of Distance. Para quem esperava o jovem introspectivo, carregado de dores de alma e a sofrer de males de amor que Song of The New Heart sugere, foi com surpresa que Guimarães acolheu um pequeno iraniano saltitante, frenético e comunicativo. Ora bem, para mim até demais, eu que dispensava os “bora lá malta”, “é assim malta: vamos curtir bué”e outras formas de linguagem “lá de baixo”.
O certo é que criou uma empatia singular com o público, deu para cantar por entre nós e até em cima das mesas , deu para pôr gente a dançar. Para quem se expressa em inglês vislumbrei até um momento bem português, um semi-fado eléctrico, guitarras sentadas e Mazgani de pé, atrás, mãos nos ombros dos guitarristas, qual fadista. Faltou ao momento a mãozinha no bolso, o cantar em português. Nada que deslustre.

Mazgani fez-se acompanhar da formação mais ou menos clássica de bateria, contrabaixo e na guitarra Pedro Gonçalves, metade dos Dead Combo, produtor de Tell the People e Song of Distance, co-responsável pelo actual som de Mazgani. Competência e consistência a toda a prova.
O concerto começou de forma arrojada com Mazgani a saltar palco fora para o meio do público, megafone em punho literalmente a arremessar-nos com Thirst. A partir daí, para além das restantes (e boas) músicas que compõe Tell the People, desfiou o que deve ser o grosso do alinhamento Song of Distance, confirmando a mudança de rumo com a certeza que funciona muito bem ao vivo. É notória a aproximação aos sons mais rudes de Tom Waits, aos tons mais negros do gospel que reconhecemos em Nick Cave, já herdados de Johnny Cash, e até às composições mais contidas de uns Spain. De todos eles Mazgani certamente surripia um pouco, mas não cai na tentação do "pastiche".

Mazgani tem já uma identidade própria.

Gostei.

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