Albert Camus, «O Estrangeiro»
O que é um ser humano? Mersault matou um árabe sem outra razão aparente que não fosse o estar encandeado pelo sol.
Mersault é um homem a quem as emoções dizem pouco. As situações têm sentido ou não, são razoáveis ou não. Não é de um robot que se trata, ele aprecia os pequenos prazeres da vida, como uma ida à praia ou a beleza de uma mulher. Ele gosta de estar à janela aos domingos à tarde apreciando os traunseuntes que chegam dos cinemas ou das arenas desportivas. Ele ouve as lamentações do vizinho que perdeu o cão e tenta ajuda-lo, mas não chorou no velório da mãe.
Mersault é julgado pelo seu crime, mas o que está verdadeiramente em causa no seu julgamento é se Mersault é digno de pertencer à raça humana, e para isso tem de ser portador de certas evidências, tais como o expressar de emoções, tacto social ou a crença em Deus.
Com «O Estrangeiro», Camus expôs-me a uma grande contradição: como pode ser o expressar de emoções a medida do humano, quando são elas que no seu extremo induzem os crimes mais atrozes? Em que é que um crime perpretado debaixo de uma grande pressão emocional se distingue de um crime cometido por nenhuma razão senão o brilho ofuscante do sol?
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