No dia em que Lou Reed morreu
"One chord is fine," he once said, alluding to his bare-bones guitar style. "Two chords are pushing it. Three chords and you're into jazz."
Algumas vezes fantasiei como seria o dia em que Lou Reed morreria. A sua mensagem e génio são tão importantes para mim que eu pressentia que quando esse dia chegasse alguma coisa mudaria em mim. Depois racionalizava e pensava sempre como seria injusto dar tanta importância a alguém que me influenciou muito intelectualmente, mas que era como pessoa um estranho, quando tinha bem perto de mim os meus próprios mortos. O dia chegou, e Lou Reed é um dos meus mortos.
O primeiro CD que comprei foi «The Velvet Underground and Nico», e a música dura de Lou Reed - fortemente urbana, enraizada na literatura e directa ao assunto, sem subtrefúgios - foi uma janela que se abriu na minha adolescência, mostrando-me um mundo que não é de contos de fadas, que não é sempre a subir. Germinada no auge do movimento Hippie, que veio a gerar os Yuppies, a geração gananciosa e hipócrita dos anos 80, Lou Reed foi contra a corrente, e se há qualquer coisa que distingue toda a sua carreira(irregular sem dúvida) é a sua independência e irreverência face a qualquer instituição, ou não faria «Metal Machine Music», um dos mais inaudíveis álbuns da história, nem «Berlin», que é desolação, violência e desespero.
Não vou falar da carreira e da importância de Lou Reed, cuja influência na boa música actual é imensa. Ele foi para a música pop o que Genet ou William Burroughs foram para a literatura. Ele queria escrever canções como Dostoievsky escrevia livros, e com essa afirmação levou-me a conhecer Dostoievsky. Ele cantou Edgar Allan Poe, e cantou sobre Delmore Schwartz. Foi uma das maiores descobertas de Andy Warhol, que nos seus Velvet Underground encontrou a banda sonora perfeita para o seu «Exploding Plastic Inevitable». Havia de lhe fazer um inesquecível requiem em «Songs for Drella», com John Cale. Quem fará o seu requiem agora?
No horizonte da música que importa, que diz algo sobre as nossas vidas, há menos um gigante. Na sua campa nascerão as flores do futuro, e a partir de hoje, muitos miúdos vão querer saber quem é esse velho de que se ouve falar por todo o lado. Esse velho compôs «New York», «Transformer» e «Berlin».
Hoje é dia de ouvir «Magic and Loss», que escreveu para dois amigos que haviam morrido, mas que hoje é sobre ele. Tive a felicidade de o ver ao vivo em Coimbra.
Na memória para sempre, além do genio, o dia em que conheci Lou Reed em Coimbra. E o bilhete autografado que, não sei onde, anda lá por casa. Lou Reed é como Ian Curtis, não morre. Vai andar sempre por aí.
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