Paredes de Coura 2009 - Morno, mas aqui e ali a roçar o escaldante


Terça - Feira, 28 de Julho de 2009

Saio das Taipas com dois amigos em direcção a Paredes de Coura (PdC), montando o meu sempre fiel Fiat Panda 750 fire. Uma visão romântica que sempre tive sobre o alto Minho obrigou-me a seguir viagem pela Estrada Nacional 101 até aos Arcos de Valdevez e depois pela Estada Nacional 303 até PdC. Valeu a pena. Belas montanhas nos seguiram até ao Intermarchê de PdC, onde decidimos, a muito custo, comprar vinho e cerveja para um batalhão.
Este primeiro dia, ainda sem música, serviu para me ambientar ás lides festivaleiras.

Quarta-Feira, 29 de Julho de 2009

No dia seguinte era grande a expectativa. A abrir o palco (incompreensivelmente, o palco secundário!!!!!!) estavam os conimbricenses Sean Riley & Slowriders. Grande concerto!!!

Seam Riley & Slowriders

Este pessoal de Coimbra cada vez que entra em palco sabe ao que vai. Apesar de um álbum mais calmo (não menos conseguido), Sean riley chega a PdC e consegue, num concerto demasiado curto, iniciar o festival da melhor maneira. Muito rock pa dar a uma pequena multidão que se acotovelava no já criticado palco secundário, com as guitarras a soar á East Coast americana. E o publico respondeu muito bem, por vezes até surpreendentemente. Músicas como "Houses and Wives" e "Harry Rivers" foram cantadas quase em coro pelo público. Não posso deixar passar em branco a brilhante actuação do Teclo-semi-baterista Filipe Costa. Não menosprezando o resto da banda, quer-me parecer que grande parte da energia de Sean Riley e dos slowriders em palco está concentrada neste senhor, que para os mais desatentos, foi também estrela nos melhores tempos dos Bunnyuranch. O "Fase Berlinense" chegou á conversa com Sean Riley, algures entre o final do concerto e o início dos "The Strange Boys". Questionado sobre se foi bom regressar ao mítico PdC, Sean Riley foi claro: " foi muito bom voltar. Já tinha sido muito bom da outra vez que cá estivemos, apesar de não termos a mesma moldura humana que aqui tivemos hoje, mas foi realmente especial voltar. É gratificante chegar aqui com um álbum com 2 meses e ouvir as pessoas a cantar as nossas canções." O "Fase Berlinense" quis saber como será o futuro, e se estão á vista mais colaborações, que de resto são marca deste pessoal de Coimbra.
"Vamos ver. Para já há o álbum para promover e muitos concertos para fazer. Mas sim, vamos continuar a fazer algumas coisas. Eu gravei agora uma música para os novos talentos Fnac com dois dos membros dos Born a Lion e o Filipe Costa está a trabalhar com um nome muito conhecido da nossa praça, mas para já continuamos focados no principal, que são os Slowriders."
E agora? "Agora continuamos na estrada. Estamos a ver se conseguimos algumas datas internacionais, em Espanha, Itália, França e no Reino Unido, e depois, em principio começaremos a nossa digressão em auditórios." Tempo ainda para uma última pergunta sobre o Rock português. Será Coimbra o centro do Rock Português? "Não. Há efectivamente muita coisa boa a ser feita em Coimbra, mas há também muita coisa a ser feita fora dela. Não existirá talvez uma "cena" como há em Coimbra, mas a música portuguesa de qualidade não se esgota em Coimbra.
O "Fase Berlinense" ainda queria mais, mas entretanto os "Strange Boys" começaram a tocar e a conversa teve que ser abortada.

The Strange Boys

"Alguém me arranja uns tampões para os ouvidos, por favor?" parece ter sido a frase mais proferida durante o concerto dos Strange Boys. Eu aguentei dez minutos e, sinceramente, não sei se é bom ou não. A voz escaniçada\irritante do vocalista e guitarrista Ryan Sambol não me permitem emitir uma opinião válida. Lá fui eu beber um fino e encostar-me á tenda do Jornal de Notícias para daí ser expulso umas 10 vezes.

Patrick Wolf

Em versão Ziggy (visualmente falando) cá estava o primeiro momento escaldante da noite e do festival (Sean Riley & Slowriders foi muito quente, mas não escaldante).
Um começo altamente prometedor com uma versão muito mais rock & roll de Hard Times foi a minha primeira surpresa, eu que, talvez ingenuamente, esperava um Patrick Wolf “popadélico”. A segunda surpresa foi a adesão massiva do público ao concerto. Era ver meninas de 17 anos a esganiçar a voz para acompanhar os falsetes de Wolf. Será que o Patrick Wolf se tornou num fenómeno de popularidade e eu não percebi? Bem, digamos que achei no mínimo estranho. Seguiu-se um concerto todo ele grande. Um Patrick Wolf extremamente bem disposto e conversador ziguezagueava entre as músicas, que se foram tornado mais pop á medida que o concerto avançava. No entretanto, e com a plateia já conquistada, ensaia no seu Ukelele (ou seria um cavaquinho?) uns acordes, levando no mínimo metade da plateia á loucura. Acompanhado pelo seu competente guitarrista de serviço põe a plateia a gritar “Gigantic, Gigantic, Gigantic, a big big love”. Pecou por pequena esta incursão pelos Pixies. O Público gostou e talvez tivesse sido este o ponto alto da noite, não fosse o estrondoso final. Que mais se poderia esperar senão a canção Pop elevada ao expoente máximo para acabar em beleza um espectáculo do Patrick Wolf? (concerto é altamente redutor para Patrick Wolf, ele que trocou de farda umas 3 vezes, eles que tocou 3 músicas em “shorts” (ou seriam uns boxers?), ele que pediu ao público para lhe arranjar bilhetes para ver a peaches, enfim).
Nada, digo eu. E ela chegou, bonita e singela, The Magic Position. O público cantou, saltou, dançou (o que conseguiu), enfim delirou com esta brilhante música Pop que, não estranhamente, se prolongou por cerca de 8 minutos. Foi um final em grande. Ao melhor estilo pop, onde o refrão foi repetido e re-repetido, mas, quem se importa?
Ho no! Pop is dead! Long live Pop!

Terminava assim, em beleza, o primeiro dia do Festival.

Quinta-feira, 30 de Julho de 2009

A noite anterior tinha sido longa e eu precisava de descanso e de um bom banho de água quente, por isso, decidi perder alguns concertos e ir até á vila para uma incursão pelos balneários das piscinas de PdC.
Cheguei ao recinto na hora certa. Os Horrors estavam quase a começar.


The Horrors

Boa surpresa! Um começo poderoso que terá deixado metade do recinto em alerta. Estes The Horrors são bons. Apesar de um som em palco que não os ajudou e de um público demasiado jovem para perceber o que ali se estava a passar, espalharam música boa pelo fim de tarde minhoto. Tenho a pequena sensação que não tarda voltarão como cabeças de cartaz. Os Horrors são muito Pós-Punk e, consequentemente muito Joy Division, e isso nota-se ainda mais em palco. Mas não lhes fica nada mal, até porque não é, definitivamente, uma cópia, mas sim o seguir e aproveitar da melhor maneira as óptimas e obvias influências. Se continuarem e evoluírem, vamos ter aí novo culto em breve.

Supergrass

E a surpresa continua. Não esperava muito deste concerto. Este “tipo” de bandas está condenada a viver “daquele” single que uma vez escreveram e os tornou muito conhecidos. Óbvio? Naaaa… Os Supergrass merecerão de minha parte uma audição muito mais atenta. Um concerto sempre em alta rotação, aqui e ali a roçar os Stones, e com uma prendada versão do Sunday Morning. Começavam aqui as versões aos Velvet Underground. Foi, definitivamente um bom concerto. Vou ouvir melhor e, quem sabe, mais tarde escreverei novamente sobre estes surpreendentes Supergrass.

Franz Ferdinand

E como o dia já ia nas surpresas e já, aqui vai mais uma. Não sendo definitivamente uma das minhas preferências musicais, tenho que admiti-lo, estes gajos são poderosos em palco. O concerto foi demasiado longo, é uma verdade. De tão longo foi chato. È outra verdade. Mas foi poderoso! As primeiras seis músicas foram de uma força brutal! O melhor início de concerto que vi até hoje. Até “Take me Out” foi sempre a rasgar. Os Franz Ferdinand são uma máquina de singles, como me dizia e muito bem o Rui Ferreira, e fazem-nos resultar em palco. Depois foi o esperado. Mais e mais e mais músicas lá para o meio até ao melhor momento da noite. O primeiro final (leia-se, antes do previsível e loooooongo encore) foi qualquer coisa de extraordinário, que só consigo imaginar tendo lugar em 1984 na Haçienda, em Manchester. Dez minutos raivosos e RAVosos. Bem…Foi qualquer coisa. Chegou o encore e eu quase adormecia. Mais do mesmo. Se o concerto tivesse as primeiras seis músicas e acabasse com aquele primeiro final, tinha sido perfeito. Mas não foi, por isso, fico-me pelas 3estrelas e meia, só pela chatice do resto do concerto.


Sexta – Feira, 31 de Julho de 2009

Não me dei ao trabalho de ir ver os Mundo cão. È areia de mais pó meu camião. Primeiro ninguém me tira da cabeça que isto não passa de uns quaisquer Mão Morta reciclados, e depois porque me mete um bocado de impressão a voz e a maneira de cantar do Rock-tv star Pedro Laginha. Ou então, ou então, encena-se um directo, para televisão.
Em frente que o dia promete.



Blood Red Shoes

Ainda não foi aqui que o dia começou a sério. Uma menina muito gentil mas pouco faladora á guitarra e a uma das vozes e um jovem airoso e muito falador na bateria e na outra voz. Voz esta exactamente igual á do Brian Molko dos Placebo, aliás, como o resto da música. Esta formação á White Stripes invertida e a música á Placebo não me convenceram, de todo.

Portugal. The Man

Tinha curiosidade para saber quem eram estes senhores, vindos do Alasca e com “sede” em Portland, que se chamam Portugal. The Man. Fraquinho… Fiquei com a ligeira impressão que só vieram mesmo pelo nome. Uma ou outra linha de guitarra a chamar a atenção e nada mais. Quem sabe ainda me arrependo do que digo, mas não vejo grande futuro nisto.

Peaches

E começa o Show! Estava com curiosidade para ouvir e ver esta lady vinda das entranhas da sempre underground cena berlinense. Foi bom. Esta música não é propriamente a minha praia, mas esta senhora deu um Show daqueles. Valeu muito mais o show que a música, é verdade, mas o show valeu mesmo a pena. Entre subidas ás armações das luzes, malabarismos em cima das colunas, metade do recinto sem t-shirt e crowd surfing á terceira música foi um óptimo espectáculo. Ainda vou ouvir melhor a sua música, e quem sabe até comece a achar mais piada a isto, mas tão cedo não me esquecerei deste maduro, não plástico e poderoso espectáculo. Peaches e a sua banda (uma loiraça que só me fazia lembrar a Nico a tocar em lingerie, um Dj\teclista que mais parecia o Bez dos Happy Mondays, só que sem maracas, e um baterista estonteante) dão um concerto competente, adulto e que transpira energia.

Nine Inch Nails

Eis que chega o momento. Um recinto a transbordar esperava ansiosamente pelos NIN. O negro dominante nas vestes destoava com as muitas pulseiras cor-de-rosa (confirmação do bilhete diário) no pulso. Entre cotas de suíças compridas e jovens de negro com t-shirts ora dos NIN ora dos Joy Division a multidão acotovelava-se ainda curiosa pelos avisos espalhados por todo o recinto a aludir ao uso massivo de Strobe Lights durante o concerto.
Essa curiosidade desapareceu ao primeiro acorde. Um potente jogo de luzes em palco caminhou, lado a lado, durante todo o concerto com a industrial música NINiana. Brutal. Uma audiência que sabia ao que ia rendeu-se completamente ao poderio dos NIN, que, mesmo não precisando de muito para conquistar a audiência (é o que acontece com os cultos) caíram sobre PdC como uma bomba sonora e visual que ainda hoje, quem lá esteve, recordará. Eu disse nos minutos seguintes ao final do concerto (que vi lado a lado com alguns descrentes) que tinha a sensação de ter sido atropelado por um camião TIR, e essa parece-me ainda a melhor descrição para o que se passou. Músicas como Terrible Lie, I’m Afraid of americans, ou Me, I’m Not foram autênticos relâmpagos lançados sobre a multidão que, de peito os recebeu. Cada acorde chegou como um grande soco no estômago, mesmo aqueles que, menos barulhentos, saíam do piano de Trent Reznor. Um final com a óbvia mas não menos boa Hurt (que os miúdos á minha frente teimavam ser uma cover de um original do Johnny Cash), que levou isqueiros, telemóveis e máquinas fotográficas ao alto, cantada aos sete ventos. Um bonito final. Pessoalmente teria feito um encore com a Closer e com a Starfuckers Inc., mas isso sou eu.
Para mais tarde recordar, sem dúvida. Um dos melhores espectáculos que vi até hoje, mas não foi o melhor concerto do festival. A maior surpresa ficou para o dia seguinte.

Sábado, 1 de Agosto de 2009

Foge Foge Bandido

Bem, até nem é mau, mas já chega! Ele é Ornatos Violeta (Brilhantes Ornatos Violeta), ele é Pluto, ele é Super nada, e, por fim Foge Foge Bandido. Já não tenho estômago para mais Manel Cruz, e não compreendo, sinceramente, esta Cruzmania. Um fim de tarde em que aproveitei para ir beber os últimos finos do Festival.

The Right Ons

Assim-assim. Umas guitarras bem afiadas e muita vontade. Um rock muito chegado ao punk, mas sem a qualidade sonora suficiente para vingar, pelo menos para já. Fica aqui uma menção honrosa para uma boa versão do “I’m Wating for my man” dos Velvet Underground.

Howling Bells

No sitio errado. Num auditório quentinho e com uma boa acústica isto até seria porreiro. Ficou na retina a amabilidade da Vocalista Juanita Stein, que prometeu voltar. Fica agora a batata nas mãos dos nossos programadores de auditórios. É uma boa aposta.

Jarvis Cocker

Isto é Hardcore!
O melhor concerto do festival, sem dúvida. Este senhor é um animal de palco. Chegar ver e vencer. Dançou, fez dançar, cantou, fez cantar, saltou, fez saltar, enfim, um grande espectáculo que transforma álbuns mais ou menos em concertos fenomenais. Sou um fã incondicional dos Pulp. Ainda hoje me lembro do dia em que ouvi pela primeira vez “Different Classes”. Passei dias seguidos a cantarolar “disco 2000” ou “Common People” . Ainda tinha esperança que o Senhor Jarvis me presenteasse com uma ou outra dos Pulp, mas nada. Mas esqueçam lá isso. Não foi por aí que o barco foi ao fundo. Músicas como “Ângela” , “Further complications” ou “I never said i was deep” chegaram e sobraram para o senhor e a sua muito competente banda espalharem a classe pelo palco. Começou com o novíssimo “Pilchard” e á segunda música já tinha umas cuecas vermelhas na lapela, lançadas por uma festivaleira mais arrojada. Isto é sintomático da classe e da pinta que vos falei anteriormente. Subir as armações das luzes e quase cair, bater com o microfone em tudo o que não mexia, enfim, vale tudo. O respeito pelo público é de uma enormidade surpreendente para um músico com uma carreira consolidada. Bonita a troca de isqueiros com uma fã, só para dar um exemplo. Se ele por cá passar novamente, eu quero repetir a dose. Brevemente.

The Hives

Mau demais para ser verdade. Não compreendo este pequeno culto á volta destes Suecos porcos e mal-educados, encabeçados por um senhor que eu nem sei o nome. Um cliché rock que já dá náuseas, quer na música quer na actuação. Muito mau mesmo. Os Vicious Five faziam muito melhor o lugar, já para não falar que mete dó a óbvia cópia aos AC\DC.
Por favor, não voltem.

Feitas as contas, foi um bom festival. Não foi brilhante, mas foi muito bom. Pó ano há mais, e esperemos que seja ainda melhor.

Comentários

  1. Olha lá os acentos nos A's. não digas a ninguém que andas na universidade.

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  2. Obrigado pela atenção catedrático Paulo, mas estes acentos foram postos automaticamente pelo meu Microsoft Word.

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  3. Grande PdC. Vamos ver como será 2010. Guimaraes on tour.

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