Cem Soldos on the Rocks
Ontem foi dia de loucura, ou seja, de sair da toca e ir ao festival Bons Sons, o qual já havia aqui anunciado.
Com a minha filha pela mão, que do alto dos seus oito anos já quer ver mundo, lá fui eu no intuito de usufruir do poderosíssimo cartaz de sábado: Lula Pena, Norberto Lobo e B Fachada. Havia ainda uma tentativa de reconciliação com a música dos Diabo na Cruz, pensando eu que ao vivo as impressões discográficas se dissipariam.
A Lula, foi pena, mas o espectáculo foi na igreja de Cem Soldos, com espaço para aí umas duzentas pessoas. Abarrotada, claro, e eu com uma princesa pela mão, sem condições para me meter em apertos. Ela às minhas cavalitas lá ouviu qualquer coisa, eu pouco mais que nada. Terei de comprar o disco. Norberto Lobo idem aspas, nem tentei.
Depois de dar uma volta pela pequena feira que lá havia, e depois de ter de ter empatado mais quatro euros em fósseis que a minha filha achou extremamente raros e valiosos, lá fui para o palco Giacometti para ouvir de novo o B Fachada.
B Fachada está a ganhar estrutura, e o seu reportório começa a ter uma solidez invejável, tanta que Viola Braguesa foi completamente ignorado, e Um fim de semana no pónei dourado já foi tocado de raspão com o Zé do Cadillac. Ficou-me a tristeza de não ouvir Tradição, Anda que está dura ou Conceição, mas o concerto estava limitado a cerca de uma hora e havia escolhas a fazer, e B Fachada fê-las apostando no reportório recente de alta qualidade.
O concerto foi muito bem interpretado, a qualidade vocal inatacável. O auxílio de Martim no contrabaixo e de Mariana na bateria enriqueceu muito a guitarra trovadoresca de Bernardo. A praça estava cheia, calorosa, e tivemos encore. Quem já se habituou a ouvir Jorge Palma ao vivo perdoa os arranques em falso e as paragens a meio da música, que só acrescentam ao charme rebelde de B Fachada, que depois de uma pequena sondagem às meninas se mostrou indisponível para casar. Realço a cover de Etelvina de Sérgio Godinho, que já anda por este blog também.
Levar a rapariga a casa, porque Diabo na Cruz às dez e meia não é coisa para a petiza. Jantar e voltar ao recinto...com a petiza, que tinha ficado tão bem impressionada com B Fachada que queria mais. Eu pensei: Diabo na Cruz, música simples, mexida...ela vai gostar.
Os Diabo na Cruz entraram em palco e o concerto começou. Infelizmente a minha opinião inicial não se desfez, achei que a música tradicional que inspirou o reportório devia ser mais transformada, enriquecida para ganhar sustentação para a instrumentação que lhe puseram em cima. As canções como estão parecem música folclórica electrificada, mas como essa música tem pouca riqueza harmónica, a coisa não me soa bem, apesar de os músicos tentarem criar uma malha de rock musculado por cima dos ritmos básicos do folclore. Acho que a viola braguesa de B Fachada está um pouco desfazada nos arranjos. A música estava bastante alta, e a meia hora perguntei à minha filha: «Estás a gostar?» Ela tímida temendo desapontar o pai disse «sim....mas acho que gostei mais do outro que fomos ver», hum...um pai sabe certas coisas só pelas vibrações: «Queres ir embora?», «sim». Fim de Diabo na Cruz para nós.
PS: Relendo o post, senti que faltava qualquer coisa. E o que falta é dizer que ouvi coisas boas no espectáculo dos Diabo na Cruz, banda que acho fazer falta no longo prazo. Bico de um prego soa muito bem, talvez porque é das músicas que mais se aproxima do que eu gostaria de ouvir, com uma instrumentação mais folk. Não creio que seja impossível a fusão da linguagem tradicional e do rock, os Humanos mostraram bem isso recentemente(vide Muda de Vida ou Maria Albertina). Os loucos estão certos também é uma canção muito boa. Espero pelo próximo registo, no qual gostaria de ouvir mais instrumentos tradicionais e músicas de raiz tradicional, mas não necessariamente presas à estreiteza formal do folclore.
E foi assim:
Lula?, foi Pena, e o Lobo estava cercado
A feira exótica:
A assistência de B Fachada
B Fachada
Diabo na Cruz
Hotel Oliveiras
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