No dia em que o Meno Rock morreu.
Foi com estas músicas que me introduzi, ainda muito novo, nas estórias do ultramar. Foi por aqui que ganhei a curiosidade de ir perguntando o que era aquela coisa do ultramar, onde o pai tinha andado. Fui recolhendo muitos e muitos testemunhos dos que por lá andaram e dos que por cá ficaram ao longo dos anos. Virtudes de tasqueiro. Alguns desses testemunhos ficaram marcados na memória, como as histórias do Manel Ferra na Guiné, do meu Chefe Teixeira aos biqueiros a um cubano ou ainda da Bertina Pires a dizer que em Sande se tremia e se temia quando se via um "jipe da tropa", porque era sinal que algum dos nossos por lá tinha ficado. O pai, bem sabemos, teve sorte na "abalada". Foi e veio sem um tiro disparado (mais coisa menos coisa). Outros nem tanto. Os que lá ficaram, ou ainda os que vieram e trouxeram consigo marcas inapagáveis, as suas famílias que sofreram com a sua ausência, mas sofreram muito também com o seu regresso. Lembro-me de alguém me contar, não consigo precisar quem, que ainda hoje o seu pai acorda de noite aos berros: "Olha os pretos! Olha os pretos!".
Este ultramar foi o cemitério da velha senhora, mas foi também, infelizmente, o cemitério de uma geração inteira. Quantos sonhos foram roubados com esta guerra sem sentido.
Se algum amigo da falecida quiser interromper as férias para a defender, faça o favor. Sinceramente (sem qualquer registo de ironia), fascina-me a defesa do indefensável.
Pobres do Menos e do Bertos que viram essa velha roubar-lhes a vida e a juventude.
Em jeito de homenagem:
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