Já Não Há Heróis


Interessante conversa sobre os Heróis do Mar (dos quais falei há não muito tempo) no blog Minoria Ruidosa.

Queria comentar, mas o que quero dizer é muito para a caixa de comentários. A dado ponto, Miguel Vaz escreve em resposta a um comentário aqui do Pedro Berlinense:

Durante as últimas décadas, são muitas as bandas que têm usado a herança dos Heróis do Mar. Desde os Sétima Legião às bandas da Amor Fúria, acho que é inegável o impacto que a banda teve na música portuguesa

A Sétima Legião herdeira dos Heróis do Mar? São praticamente contemporâneas, sendo que os Heróis do Mar nasceram em 81 e a Sétima Legião em 82.

Os Heróis do Mar, como está bem explicado no documentário «Brava Dança» nasceram como uma certa reacção ao ambiente académico de extrema esquerda que existia no fim dos anos 70. Com a pacificação e normalização da sociedade portuguesa perderam esse foco e o elemento «choque» que mais ou menos inocentemente perseguiram sem saberem no que se metiam. Tiveram o grande mérito de trazer um sentido estético e profissionalismo a um embrionário meio pop português.

A sua obra, marcada pela busca do sucesso comercial, misturada com arroubos de vanguardismo, foi bastante irregular. Paulo Pedro Gonçalves considera que só «Macau» foi uma obra maior.

Desintegraram-se pelo esvaziamento da sua missão. Deixaram algumas grandes canções, e a sua maior descendência foram os «Madredeus», a vitória da tendência tradicionalista dos Heróis do Mar.

Outras bandas com aparência Heróica, quase não vejo para além das da Amor Fúria - o caso d'Os Golpes é até um caso raríssimo de reencarnação.

Os Heróis do Mar viram a sua missão esvaziada, os Golpes pegam num tema, o de olhar para um Portugal tradicionalista, e glorificam-no. Nada de mal, e até poderão ter sorte porque a soberania nacional parece estar de novo ameaçada pelo difuso inimigo dos «mercados» e poderá ser necessário pegar em lanças contra esses moinhos de vento.

O factor choque não existe, porque não há uma rejeição dos velhos valores nacionais como existiu a seguir ao 25 de Abril, na sequência de o Estado Novo ter explorado esses valores nacionais até ao osso. Não creio que esta nossa indisposição contra estes políticos(os de sempre diz a nossa História) chegue para gerar esse choque.

Mais facilmente voltaremos às canções de protesto que clamem por um novo 25 de Abril.

Deixo-vos com o sonho mal disfarçado d'Os Golpes(We could be Heroes, just for one day...):


Bowie no seu melhor, acompanhado do seu companheiro dos tempos de Ziggy, Mick Ronson, falecido menos de um ano depois desta performance.

Comentários

  1. Verdade seja dita, os Heróis do Mar influenciaram ou emprestaram as roupas os Golpes. Stop.
    Musicalmente o resultado é muito pobre.

    Respeitando as ideias de cada um, acho que essa ideia de Portugal, se já nos 80's pouco vingou, então nos tempos que correm não faz sentido nenhum. É um retrocesso

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  2. Por falta de tempo só agora cheguei a este Post e consequentemente à resposta do Miguel Vaz ao meu comentário no Minoria Ruidosa.

    Partilho obviamente da opinião da tua opinião Jorge.

    Se gosto muito da música dos Heróis do Mar, que como bem frisaste trás ar fresco à Pop Portuguesa dos 80's, não a elevo a referência maior da mesma.

    Se gosto dos Heróis do Mar, vejo-me obrigado a não gostar dos Golpes, podemos começar pelo já referido mau gosto da cópia e depois sublinhar a minha opinião já expressa pela música que fazem e não me agrada, de todo.

    Posto isto, resta-me (mais uma vez) concordar contigo e dizer que o verdadeiro legado dos Heróis do Mar são os Madredeus, que além do resgate da tendência tradicionalista de que falaste, têm o mérito e merecem o crédito de terem vestido com tão belo traje a música tradicional Portuguesa, levando-a a outros mundos e, esses sim, enchendo salas (para não falar em estádios).

    Quanto à questão mais política da coisa, não vou entrar por aí, até porque se essa bandeira é aqui e ali levantada por esse pessoal da AmorFúria, parece-me que seja mais aproveitada por outsiders, que querem fazer dela a bandeira de um Portugal que como bem o Paulo disse, não vingou.

    Abraço de Berlim Leste.

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