A arte do lapidador

Nos comentários do post com a cover do John Frusciante, o Pedro diz de forma sacrílega que os Red Hot Chili Peppers merecem ser lembrados pelo Blood Sugar Sex Magik e por um par de canções do Californication.

Fui fazer o trabalho de casa e ouvir os citados e mais o último Stadium Arcadium, sendo que estou agorinha mesmo no encore do concerto no Slane Castel. Os Chili Peppers são uma grande banda.

Quando Flea foi a casa de um John Frusciante a quem chamar ser vivo começava a ser abusivo, e o convidou para reintegrar a banda, ele sabia que esta é a única encarnação genial que a banda poderia ter. O falhanço do regresso de John seria o fim da banda, tout court. Dave Navarro tinha levado a sua exuberância e exibicionismo e desiquilibrado a balança, Kiedis desaparecia às semanas e chutava em hotéis baratos. O panorama era sombrio.

Frusciante renasceu miraculosamente - era para casos como este que o Vaticano devia olhar -, e seguindo a máxima de Saint-Exupery que postula que o bom escritor é aquele que já nada consegue retirar ao texto, John veio mostrar que o grande guitarrista também pode ser aquele que já nada pode retirar de guitarra à canção. Em Californication, os riffs minimalistas salpicam cada canção com genialidade e a coesão da banda é admirável. É para mim ainda melhor no todo do que o Blood Sugar. Stadium Arcadium é uma explosão de trabalho de uma banda de boa saúde e com um Frusciante hiperactivo. Nas primeiras audições enfastiei-me cedo, ao ouvir por alto nas idas para o trabalho. Hoje ouvi com atenção. Muito boas canções, grande requinte musical, mas grande de mais...é impossível ouvir aquilo até ao fim de uma assentada, até porque as melodias de Kiedis são um tanto ou quanto previsíveis, por isso talvez a melhor estratégia deva ser ouvir às fatias.

Sem Frusciante os Chili Peppers que aí vêm põe-me apreensivo, sabendo que o motor de criatividade da banda(depois da OD do primeiro guitarrista) sempre foi o par Flea/Frusciante. Com o Navarro há aí sim uma ou duas músicas.

Celebremos 10 anos dos Chili em grande com um Frusciante renascido dentro e fora da banda.

E agora oiçam-me este riff.

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