FMI


O FMI (Fundo Monetário Internacional), tão falado em Portugal nos últimos tempos, é uma das instituições que nasceu na ressaca da II Guerra Mundial.

Na tentativa de criar uma sociedade mundial que incorporasse todos os níveis do sistema internacional, de modo a fomentar a cooperação e a evitar novas guerras, os vencedores da II Guerra Mundial decidiram criar uma série de instituições e Organizações Internacionais. Simplificando, esta foi uma tentativa de criar uma Governança Global.

Algumas dessas instituições são de cariz político, sendo a Organização das Nações Unidas (ONU) o seu expoente máximo, outras de cariz económico e financeiro, do qual destacamos o Grupo do Banco Mundial e o FMI, ambas criadas no âmbito da Conferência de Bretton Woods, uma pequena vila no pequeno estado do New Hampshire nos EUA.

O FMI nasceu com o intuito de regular, democratizar e balancear as relações económicas mundiais, de modo a evitar grandes fossos de desenvolvimento entre os países, fossos esses que poderiam provocar instabilidade. Esses propósitos seriam atingidos através de ajuda técnica e financeira prestada a países em dificuldade, além da regulação das taxas de câmbio, entre outros aspectos técnicos. Basicamente o FMI ajuda financeiramente países com problemas estruturais graves, e depois reserva-se ao direito de corrigir esses problemas, normalmente com medidas extremamente austeras, o que causa graves problemas sociais, como aconteceu na Grécia muito recentemente.

O FMI já por cá andou antes. Portugal aderiu ao FMI em 1960 e desde então já teve duas intervenções do fundo, em 1977 e em 1983.

Tanto numa situação como na outra a intervenção parece ter sido inevitável. Numa era pós – revolução Portugal era um país destruído estruturalmente e que não tinha sequer divisa suficiente para comprar alimentos ao estrangeiro.

Em 1977 o fundo chegou, emprestou dinheiro e resolveu a questão de solvência, mas não resolveu os problemas estruturais, como a fraqueza da moeda portuguesa e a debilidade da economia. Em 1983 a intervenção foi mais profunda, tendo resolvido não só os problemas imediatos de falta de liquidez mas reformando o suficiente para que Portugal tivesse condições para entrar no mercado único europeu em 1986.

Até aqui muito bem, mas não podemos esquecer que esta segunda intervenção foi nefasta económica e socialmente. Decréscimo do produto interno bruto (PIB) em cerca de 2,5%; redução real dos salários; aumento das taxas de juro; limitação de crédito. Enfim, um aperto e um travão para uma economia e uma sociedade que desejavam escalar para os níveis europeus.

Neste momento, a vinda do FMI não era a desgraça nem o fim do mundo, mas era em minha opinião uma ainda maior catástrofe social e um travão numa economia Portuguesa que pode ainda recuperar sozinha. Para isso preciso bom senso por parte de quem nos governa e por todos actores da nossa cena política. A ver vamos.


*Este artigo de opinião vai ser publicado na edição de Dezembro do Jornal Reflexo

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