O mensageiro
- Estás a gozar!
- Não. Acredita. De vez em quando, na esquina da Avenida da República com a Miguel Bombarda estão espalhados papéis manuscritos à volta da cabine telefónica. Da primeira vez que vi imaginei uma estudante - daquelas que se sentam nas primeiras filas nos auditórios e escrevem até quando o professor tosse -, a correr apressada para atravessar a zebra e papéis a voar à sua volta. Da segunda vez que vi o fenómeno repetido, semanas depois, fiquei ainda mais intrigado. Mas a vergonha de ser visto por algum colega a apanhar folhas enlameadas do chão venceu. Um dia a curiosidade assumiu o comando e apanhei uma das folhas. Li um parágrafo apressado para logo depois largar a folha, não fosse o autor estar à pesca em alguma esquina e abordar-me. Ao ler, a minha imagem da estudante apressada logo foi substituída pela do homem no vídeo de Everybody Hurts a largar páginas (poemas?) de um viaduto. A página começava assim:
«Você não alcançará a salvação se não repetir esta mensagem, transmita esta energia ao maior número de pessoas que conseguir. Copie o texto que se segue e deixe-o num local público (...)» - e por aí seguia.
Fiquei atónito, eram mais de dez folhas disto! Instintivamente, atacado de uma compaixão momentânea, saquei de uma esferográfica e escrevi bem legível: «www.facebook.com».
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