O palco

Acontecia-lhe frequentemente - com os papéis espalhados pela mesa da esplanda, quantas vezes com o Código Civil a prender as folhas para que não voassem -, perder-se em ilusões de vida artística, imaginar-se sentada no camarim, fitando o espelho enquanto se ia transfigurando na personagem que dentro em pouco pisaria o palco para satisfazer as ânsias do público que conseguia pressentir intermitentemente quando abriam a porta.

Um amigo chegaria, desejava-lhe sucesso, trazia-lhe flores; dizia-lhe: - nunca pensei que cantasses, quando andavas pela faculdade! - Ela sorria, e lembrava-se do desencanto pelos calhamaços e pelas características das normas jurídicas. Estava muito nervosa, a hora aproximava-se.

Oh! Tenho que a apanhar!- gritou ela. Uma folha soltou-se com o vento e voava em direcção à marina.

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