A admirável música nova e eu
Num interessante post no qual comenta certeiramente o meu post anterior, o Miguel Vaz do Minoria Ruidosa chega mesmo a diagnosticar-me uma posição bem conservadora face à evolução do Rock nos últimos tempos.
Na verdade a minha miséria é bem pior do que essa, porque a minha ausência de ícones de referência dos anos zero deve-se tão só à ignorância, que só não é total por acção dos meus companheiros de blog, um deles mais novo dez anos que eu, que ainda vão por caridade dando algo de novo e interessante a ouvir ao seu decrépito irmão mais velho. No início de Fevereiro não sabia que raio eram a FlorCaveira, Amor Fúria, e não fora ser levado a ver o Guillul ao vivo e ainda hoje estaria a dizer ao meu irmão para comprar discos ao menos bem gravados.
A realidade é que o meu acompanhamento do quotidiano musical sofreu grave revés de há dez anos para cá, desde que comecei a interessar-me cada vez mais pelos antepassados que as novas bandas vão reclamando como referências. Por isso o meu telescópio foi-se focando mais nos Velvet, nos Doors, Jimi Hendrix, Nick Drake, David Bowie, Brian Eno, Stones e Beatles e muitos outros, todos eles com os seus anos de glória antes do meu nascimento (com excepções), e fui progredindo pelos anos 80: Joy Division (tão importantes para mim como os Velvets), Utravox, Bauhaus, The The, The Smiths (grandes, grandes), Stone Roses, The Cure, New Order, Sétima Legião, Mler If Dada, Pop Dell'arte e por aí fora. Os anos 90 foram sim os anos da minha adolescência, e Nirvana, Pearl Jam, Stone Temple Pilots, Pixies, Alice in Chains, R.E.M (comecei com o Out of Time), Massive Attack, Radiohead, Jeff Buckley, os imensos Mão Morta e Tindersticks foram companheiros de crescimento.
Finada a década de 90, com o meu maior conhecimento do passado, foi-se criando em mim a ideia de que quase tudo era clone de algo que já ouvira, o que não é mau em si, mas sentia faltar a muitos o quilómetro extra que permite a algumas bandas adquirirem a sua identidade para lá do pastiche. A verdade também é que a música que foi sendo feita quando eu entrei pelos vintes deixou de ser escrita para as minhas vivências e interesses, e o meu entendimento da má qualidade de muita música, admito, muitas vezes não terá passado de inadequação.
Mas onde há fumo há fogo, e o grande produtor Tony Visconti (triologia berlinense de Bowie, Ringleader of the Tormentors, de Morrisey), ele próprio descreve na sua biografia o que se passa com a música actualmente (mas ele ainda é mais velho do que eu ):
«Why does everything on the radio sound like shit these days? (...) It's become a formula and the situation is something we have to live with it. (...) As future songwritters you will have to toe the line. Since kids aren't buying CD's write simple formulaic stuff for comercial radio, film soundtracks and commercials - that's it.»Naturalmente, no underground existem verdadeiros artistas que vão furando aqui e ali o esquema: o meu melhor concerto do ano passado foram os The National em Guimarães, como disse antes vi duas vezes o Antony (surpreendi-me com o Brit award), e também fui ao funeral dos Arcade Fire, por isso admito que existindo estes bons, possa estar a ignorar ainda muitos mais.
João Lisboa, que eu respeito imenso, fala de renascimento com esta nova vaga da FlorCaveira - não me esquecendo eu da Catadupa, Amor Fúria e MerzBau (em fim de vida infelizmente), - e eu reconheço que existe algo de novo em muita desta música, não tanto a nível sónico, mas na renovação do marasmo que tem sido a música portuguesa nos últimos anos. É um pouco o mesmo tipo de fenómeno através do qual o software livre (outra das minhas causas) vai ganhando terreno à grande Microsoft, aproveitando o poder da net para criar comunidades informais, mas espantosamente robustas, que apanham desprevenido o sistema.
De repente senti-me com vontade de prestar atenção às novidades, dois dos meus irmãos juntaram-se a mim, e este blog nasceu um pouco para entrar no debate, aprender e conhecer mais, e no meu caso, ir partilhando as velharias que fui acartando ao longo destes anos, numa espécie de feira da ladra musical.
Portanto, Viva o Rock!
Começa já hoje :)
ResponderEliminarmyspace.com\d3orock
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E isto são só portugueses, e são todos bons!
Abraço