Boato



Não é boato. "Boato", o registo ao vivo gravado em Novembro do ano passado no Jardim de Inverno do S.Luís é um prazer para os ouvidos.

Conheci JP Simões via Belle Chase Hotel, os quais na minha opinião continham alguns exageros sónicos e mesmo interpretativos que acabavam por ofuscar a qualidade das composições. Adorei o álbum "Exílio" do Quinteto Tati, com músicas abarcando vários estilos, arranjos mais equilibrados e letras magistrais, certamente nada triviais de serem escritas, e quem diga que é fácil, que experimente levitar sobre o Tejo.

"1970" foi o primeiro álbum a solo de JP Simões. Foi-me oferecido por um amigo a quem o tinham oferecido por ele gostar de Chico Buarque, o que denuncia desde logo a matriz "Buarquiana" deste álbum. Não gostei tanto, porque acho o JS Simões mais brilhante num registo mais ecléctico do que o da circunscrição ao universo de Chico. O Universo de JP vai muito além disso.

"Boato" recupera a história de JP Simões e acrescenta reportório ainda não gravado pertencente à "Ópera do falhado". Um delicioso disco.

Com o seu cinismo e pessimismo inteligentes, JP Simões é a banda sonora ideal para a minha faceta de leitor desses marados franceses todos: Baudelaire, Genet, Bataille e Céline, eles próprios meticulosos exploradores do lado escuro do ser humano. Quando oiço "Boato", sinto-me por vezes na velha Biblioteca Municipal de Viana do Castelo a ler o "Querelle, amar e matar".

Não posso terminar sem referir o excelente programa que JP Simões fez para a 2, sobre as novas bandas, "Quilómetro Zero", no qual pudemos ver os nossos amigos Smix Smox Smux, Peixe Avião e Norberto Lobo entre outros (também com blog), e que demonstra que há vida boa vida musical para lá de Vila Franca,

Se querem uma crítica a sério a "Boato", está aqui.

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