Cuidado com a Mimi


Sinto-me na Caverna de Platão quando oiço o B Fachada. Diante de mim desfilam personagens informes do bas fond boémio, misturados com cantadeiras de trás-os-montes e com os fantasmas de tantos dissidentes do mainstream. Lá ao fundo uns acordes dissonantes de conversas de café, cá à frente uma voz de lamento, que descreve mas não concede à interpretação.

Dia 30 de Abril de 2009 foi a apresentação do novo trabalho de B Fachada, «Um fim de semana no pónei dourado». Estive no concerto no Maxime, merecidamente cheio perante um Fachada aparentemente incrédulo, lembrando o seu primeiro concerto no mesmo espaço, com menos gente, e com menos reportório. Infelizmente vi tudo junto ao bar e não consegui ouvir com a nitidez que desejava, mas Fachada, com o seu ser a nu, foi desfiando o novelo da sua arte com aquela postura que o tornaria interessante mesmo sentado no meio do palco acompanhado únicamente com palmas.

O álbum, após várias audições(já disse antes que não confio na primeira), perde o artesanato de «Viola Braguesa» que o colocava simbólicamente entre os camponeses que cantavam nos seus árduos trabalhos as agruras da sua jorna, mas ganha um alcance maior numa abordagem arrojada e não certamente atraente aos ouvidos de todos, cheio de subtilezas sónicas e acordes desconcertantes.

Na minha caverna, vou observando as sombras que passam diante de mim, ouvindo as suas vozes, tentando a pouco e pouco construir as minhas imagens a partir das palavras e (des)construções musicais de B Fachada. Terminado esse processo, esta será a minha música de B Fachada, porque a construí eu, e já não lhe pertence.

Comentários

  1. Aparte um devaneio à la Antony e um outro à la Palma, está excelente. Precisa de muitas audições, mas é de registar a coerência estética, que mais disco menos disco o levará à obra prima.
    Conceição é a minha preferida.

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