Ai Alemanha, Alemanha, de que é que tu estás à espera?


“A União Social Cristã (CSU) da Baviera, partido coligado com a União Cristão Democrata (CDU) da chanceler Angela Merkel, exigiu que a Grécia abandone a união monetária europeia devido à crise financeira que enfrenta.”

Esta frase é retirada de uma notícia da Agência Financeira e é o reflexo do egoísmo Europeu, particularmente dos nossos parceiros Alemães.
Antes de mais nada, uma pequena recordação histórica:
A Alemanha, causa das duas Grandes Guerras Mundiais, é a prova viva do sucesso do processo de integração europeia. Se no final da 1.ª Guerra Mundial a Alemanha foi severamente punida pelo tratado de Versalhes (ignorando os aliados os conselhos do Presidente Americano Woodrow Wilson), levando a um atrofio da economia alemã e ao consequente desvio populista que nos leva à génese da eleição de Hitler e consequentemente à 2.ª Guerra Mundial, no final desta 2.ª Guerra a Alemanha dividida pelos acordos de Ialta e Potsdam foi reconstruída e levantada pelo dinheiro Americano do Plano Marshal. Depois, rebocada pela visão de Robert Schuman e Jean Monnet (Ministro dos Negócios Estrangeiros e Presidente Francês em 1951, respectivamente), que queriam criar um movimento de integração europeia e evitar outra guerra, a Alemanha Ocidental foi um dos países fundadores da CECA (Comunidade Europeia do Carvão e do Aço), organização embrionária da União Europeia. Mais tarde, impulsionada pela visão do seu Chanceler Helmut Kohl, a Alemanha reunificou-se e a Alemanha Oriental foi objecto de ajuda por parte das instituições europeias (é certo que nesta altura já a Alemanha Ocidental era um dos principais pagadores do bolo europeu). É impossível prever o caminho da Alemanha e da Europa sem o caminho traçado por Schuman e Monnet, mas este seria certamente diferente.

Hoje, a Alemanha está relutante em ajudar a Grécia (culpada, sem apelo nem agravo da situação em que se encontra). Não vou aqui discutir a questão dos mercados e das Agências de Rating, essencialmente porque não me sinto na posse de todas as habilidades para o fazer, mas vou sim apontar o dedo a esta Alemanha egoísta, muito diferente da Alemanha de Kohl e de Gerhard Schroeder. Politicamente, ninguém mais que a Alemanha tem obrigação de ajudar. Ninguém aqui está a pedir que a Alemanha suporte todos os desvarios económicos dos seus parceiros europeus. Pede-se sim solidariedade de quem pertence a uma União política, económica e monetária que passa neste momento por enormes dificuldades. A Grécia é o que todos sabemos, Portugal tem um problema gravíssimo de défice orçamental, Espanha é uma bomba prestes a explodir onde 20% da população activa depende da construção num país em que as casas valem…nada. Enfim, este é um enorme desafio que a Europa tem pela frente, e o que se pede à Alemanha é solidariedade e confiança, e não se lha pede a qualquer preço. À mesma escala pedem-se medidas concretas e sacrifícios aos países em dificuldades. A Alemanha e a Europa têm de acreditar nos seus parceiros.
Imaginemos por um momento apenas que um dia, Schuman e Monnet não tinham acreditado na Alemanha.




*este artigo vai ser publicado na edição de Maio do Jornal Reflexo

Comentários

  1. Pois eu não acho nada disso. Se eu fosse alemã, e trabalhasse as horas que eles trabalham e tivesse a produtividade que eles têm, também não achava piada nenhuma que, continuamente, os meus impostos servissem para ajudar aqueles que desperdiçam, não trabalham e gastam acima das suas possibilidades.
    Já chega!
    Falando à minha dimensão de cidadã portuguesa, estou cansada de ver os meus impostos a serem gastos com aqueles que nada fazem e que nada querem fazer...

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  2. Penso que temos que ser menos emocionais e mais pragmáticos, pois como disse ou reverberou Kissinger, entre estados não existem amizades, mas interesses.

    É do interesse da Alemanha ter uma moeda forte, se a Alemanha não ajudar a Grécia em tempo útil, vai acabar por pagar o mesmo ou mais com a desvalorização do euro.

    E não devemos enternercer-nos com a generosidade alemã. Em parte alguma eu ouvi dizer que a Alemanha doará dinheiro à Grécia. Pelo que sei emprestará a juros.

    Seguindo o espírito da união europeia, deveria a união monetária escudar-se das agências de rating(que legitimidade têm? É ler Paul Krugman no assunto) criando uma agência de rating independente europeia e deixar a política monetária agir além do poder político, porque esta coisa da Alemanha tem uma causa: eleições à vista.

    O euro está a ser atacado pelo seu sucesso, e é bom que haja união para que a estabilidade prossiga. O egoísmo é contrário ao espírito da União Europeia.

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  3. Pois caro(a) carpeDiemaria, não foram as emoções que construíram esta Europa unida e sem guerras. Foi a visão de alguns e a solidariedade de muitos.

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