Ilhas distantes


Há muito tempo que sou um ávido curioso, não só de música e de canções, mas também das motivações dessa música, dos processos que lhe dão origem e dos músicos que a fazem. Por isso não há ficha técnica que me escape ou detalhe escondido que o fique por muito tempo(mesmo alguns recados em disco ou em palco). Há muitos anos comprei em simultâneo os dois trabalhos de António Variações, e no segundo, «Dar e Receber», aquele que foi gravado pelos Heróis do Mar, não me escapou da ficha técnica um nome que conhecia de outras latitudes: Paulino Vieira.

Durante anos fui ouvindo falar desse músico, da sua importância como arranjador e produtor e multi-instrumentista. Há alguns meses atrás, uma entrevista de Tito Paris fez-me lembrar Paulino Vieira. Procurei pela net e no site do músico soube da sua auto-reclusão e mágoa perante um poder instituído na música cabo-verdiana, que no seu entender excluía a verdadeira música nacional em favor de adulterações comerciais. A minha curiosidade aumentou.

Pouco tempo depois, sorte ou destino, tive uma memorável conversa sobre Paulino, a música de Cabo Verde e também sobre música brasileira com uma pessoa que suspeito não andará longe de ser fã número um de Paulino. Abriu-se uma porta para que pudesse conhecer melhor esse génio, e também a verdadeira música de Cabo Verde. Nunca esquecendo esse desígnio, fui no entanto deixando o tempo passar, e espero que esse caminho que se abriu não esteja ainda fechado porque o interesse continua grande.

Há qualquer coisa na música de Cabo Verde que ecoa em mim, talvez porque tenha também incrustrado em si muito do DNA que também está presente na nossa música, e principalmente, muito do sentimento. Há algo de cativante nesse balançar das ilhas distantes, cuja cultura nos rodeia mesmo aqui em Lisboa, sem que lhe prestemos atenção(a não ser quando é descoberta em França).

Chegou o momento de ver e escutar com atenção.

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