Entre Aljezur e Brooklyn (via feira de Carcavelos)




Depois de apanhar algumas referências soltas referindo-se ao super grupo Diabo na Cruz (é o primeiro a que vejo chamar isso em Portugal desde os saudosos «Maduros», deus os tenha), e depois de ouvir o single na Antena 3, lá foi a curiosidade suficiente para ir ouvir com atenção o que se mostra no MySpace.

Primeira referência para a capa do EP. Lembra-me a capa do «Vénus em Chamas» dos Mão Morta, e parece-me de idêntico mau gosto estético. Mas passemos à música, que é o principal.

Sobre a música, li nas apreciações críticas com ligações da página do Myspace muitas coisas boas: «
este colectivo vai mais longe na investida e esboça um caminho a partir de onde António Variações ou a Banda do Casaco nos deixaram»; « É mais uma bela surpresa. (...) E exorcizam, como há muito se não ouvia, o que parecia ser uma má relação da música portuguesa (dita moderna) com genéticas de um Portugal musical profundo»; «na união definitiva e quase perfeita do melhor rock com a tradição portuguesa que se pode ouvir».

É tentador aderir a todo este entusiasmo, e escusado fugir à realidade de que as músicas, tecidas daqueles ritmos indestrinçáveis do nosso DNA colectivo, são contagiosas ao limite e estão formalmente bem tocadas e cantadas.

As canções radicam nítidamente no folclore português, e com isto não quero dizer que são uma criação que têm o folclore como musa inspiradora - não! Estas músicas são folclore electrificado, com letras aggiornadas para tempos e vidas longínquas dos campos de milho e centeio. Do folclore dos ranchos nunca gostei...e muito ouvi nos altifalantes das festas por aquele Vale do Ave fora. Reconheço-lhe o valor etnográfico e respeito quem gosta...mas acho-o muito pobre musicalmente. Ouvindo as recolhas do Michel Giacometti, encontro lá coisas que me arrepiam, não nos ranchos.

Pesando a favor, as críticas, a qualidade da execução e interpretação e a certeza de que as melodias pegam; contra, o meu preconceito contra os ranchos. Ainda assim este trabalho não me entusiasma como o «IV» do Tiago Guillul ou o «Viola Braguesa» do B Fachada me entusiasmaram. Penso que tem a ver com a minha visão do que será evoluir a música popular/tradicional portuguesa, e esboçar «um caminho a partir de onde António Variações ou a Banda do Casaco nos deixaram».

Com estes pensamentos bailando na minha cabeça hoje voltei a ouvir «Amai» e «Lua Semi-Nua» do Paulo Bragança, e compreendi o que me afasta deste Diabo na Cruz. É precisamente o eu já ter ouvido o Variações, o Paulo Bragança, os Trovante, o Quarteto 1111 e a Banda do Casaco.

Comentários

  1. É de fugir como o diabo foge da cruz. Isso sim. Há coisas difíceis de entender e esta é uma delas

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  2. É inconsequente.

    Com todo o respeito que me merecem todos os intervenientes do projecto, é uma tentativa frustrada de ir beber ás raízes da música tradicional portuguesa.

    O que fizeram, como bem citaste, Variações e noutro plano, Paulo Bragança, foi diferente.

    Beberam dessa fonte mas daí partiram para a sua música. Criaram uma obra provavelmente inigualável.

    "Diabo na Cruz" é Rancho, mas tocado por gente nova e com guitarras eléctricas.

    E, mesmo no rancho, prefiro o original.

    Acho que é uma aposta muito fraca da FlorCaveira, que, provavelmente bem, aproveitou o filão de B fachada e companhia. Provavelmente foi uma boa aposta comercial, certamente uma má aposta musical.

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