Nos desertos do Amor...
De associação em associação, cá vamos nós. Num comentário ao último post, o Paulo César cita certeiramente «Lamento de Rimbaud», canção do álbum «Domingo no Mundo» de 1997, por acaso também o primeiro que comprei de Sérgio Godinho. É um grande álbum, feito essencialmente de colaborações - Kalu, João Aguardela, Tito Paris e outros.
O «Lamento de Rimbaud» é uma música composta para o espectáculo «Os filhos de Rimbaud» onde fui buscar o título do último post, espectáculo esse que reuniu em Novembro de 1996 João Peste, Sérgio Godinho, Al Berto(que leu 'A morte de Rimbaud'), Rui Reininho e Jorge Palma, este incluindo também no seu ábum «Norte» de 2001 a música «Acordar tarde», um poema de Al Berto do seu último livro de poemas, que toda a gente deveria ter, «Horto de Incêndio».
Não sei porquê, o nome de Sérgio Godinho era encarado na geração dos meus pais com alguma desconfiança, não sei bem porquê, mas desconfio que as suas letras de trama poética razoavelmente complexa não sejam muito apelativas às pessoas dessa geração normalmente com pouca literacia, pelo menos no mundo rural de onde vim. Não tendo ouvido Sérgio Godinho por influência dos mais velhos, foi com um concerto em Macau transmitido pelo canal 2, que gravei em VHS, converti para áudio e ouvi milhares de vezes que a epifania aconteceu. Sérgio Godinho é um artesão das palavras, com um sentido de ritmo incrível...a última música dele que contagiou mais do que a gripe cá em casa foi «Bomba Relógio» do álbum «Kronos» de Cristina Branco, também ele excelente e do qual falarei também noutro post.
Uma grande lição que Sérgio Godinho nos traz, é a de que, com a sua permeabilidade a colaborações com outras sensibilidades vai mantendo a sua música actual e viva, o que nos leva ao corolário de que, havendo lugar para a música tradicional na sua forma mais pura, existe contudo também um grande espaço para a sua renovação e reinvenção, pois nem a arte nas suas diversas formas nem a língua sobrevivem se enquistarem e não evoluirem. Para renovar fazem falta visionários como Variações ou Paulo Bragança, para manter o status quo fazem falta outros como o Camané.
Sobre Sérgio Godinho há muito mais para dizer, este post é só mesmo para fazer a Ponte com Rimbaud e os «Filhos de Rimbaud», a ele voltarei concerteza.
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