Redescobrindo-nos
Não sei se todos passam pelo mesmo que eu passei. Na adolescência procura-se uma identidade que os torne distintos de todos os outros. Cada dia julgamos descobrir algo que mais ninguém conhece. A tudo e todos tratamos com arrogância e desplicência. E talvez acima de tudo tentamos fugir o mais que podemos dos gostos dos nossos pais, que aparecem aos nossos olhos como seres aprisionados no passado, que nunca ouviram os Doors(esses sim muito actuais) ou entenderam a maravilhosa arte de Jackson Pollock(avant-garde portanto).
Perde-se muito nessa fuga, rejeita-se uma parte da identidade com ela. Quando amadurecemos um pouco reflectimos e tentamos a pouco e pouco inverter caminho, abrindo os ouvidos, olhos e corações aquilo que a nossa herança tem de bom.
No meu caso penso que só no momento em que entrei numa tuna académica e comecei a aprender cavaquinho e bandolim, procurando material para treinar nos discos de Júlio Pereira, Zeca Afonso e outros, pude ver com clareza que música tradicional não implica desnecessáriamente raparigas gritando de forma estridente com acordeões com volume a mais e os restantes instrumentos inaudíveis, como se vê nos maus grupos de folclore.
Ouvir «Cavaquinho» de Júlio Pereira não nos deixa indiferentes, porque nos mostra um potencial insuspeitado quando somos forçados a ouvir as ranchadas só com «O LÁ de cima e o LÁ de baixo» e com o «SOL e DÓ».
Mas há que avançar, e pegar nesse legado, transformando-o e crescendo a partir das suas raízes. Já falei do Paulo Bragança a esse respeito, mas agora venho falar de João Aguardela, ele próprio colaborador e compositor no álbum «Lua semi-nua» de Paulo Bragança.
Estando no local certo: o ensino superior no momento certo: meados dos anos 90 tive que apanhar com o furacão que foi «Esta vida de marinheiro». Não gostei dessa música, mas vim com o tempo a apreciar algumas coisas dos Sitiados. Quando se sairam com a «Valsa dos Electrodomésticos» afastei-me definitivamente.
Mais tarde acompanhei ao largo a Linha da Frente e a Naifa, e ouvi umas coisas do Megafone. A verdade é que só quando algumas pessoas desaparecem somos capazes de parar um pouco e deixar de lado alguns preconceitos para ouvirmos a sério.
O site «Megafone 5», criado para perpetuar a memória de João Aguardela dá-nos de presente os 4 álbuns Megafone que João gravou. Ouvi-los tem sido um enorme prazer e mais uma contribuição para a minha redescoberta enquando Português.
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