Pagão
Em 2002, com o 11 de Setembro ainda no retrovisor, Bowie lança «Heathen»(«Pagão» na tradução), um álbum sem muito foguetório (embora isso seja confundido com o ser um álbum menor, como eu li por aí num jornal), mas no qual Bowie alinha algumas peças importantes do seu xadrez, preparando o advento de «Reality».
«Heathen» parece o caderno de notas de Bowie, onde ele revê a matéria dada, as suas influências, e os seus companheiros e até aos seus herdeiros musicais. Tony Visconti produz, Carlos Alomar regressa, Dave Grohl Toca.
Em «Sunday» o fantasma(bem vivo felizmente) de Scott Walker espreita, «Cactus» é uma versão dos Pixies. Em «Slow Burn» a ajuda de Pete Townshend é requerida, e temos um regresso a Berlim, incluindo o uso do mesmo truque de microfones que é usado em «Heroes» no refrão. «Afraid» banha-nos de pop reflexivo, com as cordas de Tony Visconti, o produtor da fase berlinense, a darem o tom épico. Até o velho Ziggy é visitado em «Took a trip in a Gemini Space Ship». «Angels have gone» é o traço de um Bowie para lá de adulto, mais calmo e atento aos detalhes. É uma música para reouvir portanto. «Everyone says "hi"» é tirada das primeiras páginas do livro de notas, porque no estilo e na letra regressa à «swinging London» de onde Bowie surgiu, na sua incarnação ainda pré Ziggy Stardust.
«Heathen» é um álbum de grande qualidade, mas pelas suas subtilezas e falta notória de hits é talvez interessante, e muito para quem conhece bem a carreira de Bowie. «Reality» que se seguiu é igualmente de grande qualidade, mas difente porque mais focado e realinhado para uma geração de ouvintes mais adultos de Bowie.
Quem diz que «Heathen» é um momento baixo da carreira de Bowie, para além de falar de Bowie com a ligeireza dos anos zero, de certeza não teve que engolir os álbuns de 83 até 90.
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