Preferias ver-me paralítico

Em 93 não conhecia bem Bob Dylan. Fora as deturpações dominicais e uma ou outra audição fugaz na rádio, a sua melodiosa voz não fazia ainda parte da minha dieta musical regular.

Vagabundeando pela minha recentemente descoberta Viana do Castelo, na qual deambulei por mais sete anos, farejei num quiosque do único centro comercial merecedor desse nome na altura, o Verde Viana, um CD best of do Bob a 1.700 escudos, e veio-se a confirmar ser mesmo um Best of do Bob. Pouco depois tentei o mesmo número com um Best of dos Beatles, para ser presenteado com a orquestra sinfónica de Vladivostok interpretando os melhores êxitos.

O Bob era mesmo o Bob, e para além da sempre magnífica "Mr. Tambourine Man", que parece ter sido feita à base de chuva ácida, podemos instruir-nos com mais 17 canções do período inicial de Dylan, aí até 66.

O que mais me surpreendeu não foi contudo a eloquência poética, mas a incisividade de algumas canções, que mostram um Bob inclemente. Positively 4th Street é uma dessas canções. Gravada em 65 entre "Highway 61 revisited" e "Blonde on Blonde", é lançada como single na sequência de "Like a Rolling Stone"( já de si uma canção bem azeda), mas não entra em qualquer dos álbuns. Os entendidos inclinam-se para que seja uma canção de amor aos seus anteriores companheiros da cena folk, que adoraram a deriva de Dylan para o Rock electrificado.

A nossa cena musical está faltada de umas refregas destas, para ver se deixa de ser tão chatinha. Aqui e ali já ouvi uns acordes de rancor em dó maior para piano, e embora ténues, achei trés maxime. Felizmente a coisa não escalou, senão o nosso pequeno meio musical seria uma selva.



Comentários

Mensagens populares