Music for a new Society

Ainda falaremos mais de John Cale aqui, mas para já contento-me em roubar-lhe o título de um álbum para falar da revolução em curso.

Em 2001 Peter Buck dos R.E.M dava uma longa entrevista na qual falava do novo álbum à data( Reveal) , da história da banda e ainda sobre o ecosistema musical da altura. O negócio da música também foi abordado, e com o fenómeno Napster ainda quente foi-lhe perguntado de que forma é que a realidade da partilha de música na net afectaria o mercado musical, ao que ele respondeu:

All my friends who used to be on major labels, what they do now is go in their basement and record really cool songs. They're really great. I like them better than their major-label records, maybe 'cause they're closer to the demo stage. They sell them at shows. I've got a couple of friends who were dropped by major labels who did that, and they said, "You know what, I made more money this year than when I was on [name the label], 'cause I'm making these records for free on my 8-track, pressing them up at $1.20 apiece and selling them at shows for $10, and I press up 5,000 of them and sell them in a year." I just think that's great.

Na altura a fabriqueta de cd's caseira e a venda no fim dos espectáculos de CD-R ainda era uma coisa sui generis e considerada amadora, mas Buck já punha a nu aquilo que afinal mais arrepia as editoras, que é a eventualidade de a sua morte não constituir um grande pesar para os artistas:
Listen, I'm not worried about it. I think it's an interesting phenomenon. Anything that gets my records to more people is exciting for me.
Hoje são já incontestáveis os fenómenos de rede, o efeito de passa palavra e o marketing viral que nos revela, vindos sabe-se lá de que cave, artistas que têm o seu culto, vão dando espectáculos e crescendo como ervas daninhas à revelia das grandes editoras. Alguns(poucos) artistas da geração anterior começam também a aperceber-se da força brutal desta segunda geração da internet, cujos conteúdos não são já produzidos em meia dúzia de conglomerados mediáticos, mas sim pelas teclas de milhões de entusiastas que estão a condenar os meios de comunicação tradicionais a uma morte lenta.

Numa recente entrevista a uma das mais bem sucedidas startups da web 2.0(Digg), Trent Reznor dos NIN afirma:
“We’re in between business models,” he continued. “You know, the old record labels are dead, and the new thing hasn’t really come out yet. So, I’m hoping that whatever gets established puts a lot more power in the hands of artists and more revenue.”
Este novo modelo de negócio tem já um aroma da próxima geração da web, a web semântica por via das tags e das estatísticas de compra. Ou seja, as recomendações, buscas, tags, posts e comentários maximizam a possibilidade de um artista se tornar visível e sobressair, até indirectamente por relação com um outro artista de que gostamos(como acontece na lastfm). A mecânica de divulgação e de promoção de um artista passa por alguns factores como os seguintes:
  1. A compreensão de como a divulgação funciona em rede, e de como o conjunto de malhas que se vão estabelecendo e servindo de apoio a um artista se tecem a partir de uma habilidosa política de relações públicas, que potencie a geração do conteúdo sob várias formas e em diversos suportes(muitas vezes por terceiros, alheios à envolvência dos artistas). Esses nós acabarão por se interconectar e produzir um efeito sinérgico de contaminação por referenciação enorme. O artista é falado em blogs, no twitter, tem fans no facebook, vídeos no youtube, página no myspace, etc. Todos estes meios têm o poder de serem referenciados e associados, e de link em link a aranha vai apanhando mais um curioso e o artista vai construindo a sua comunidade. Nunca a frase do Sérgio Godinho «Isto anda tudo ligado» fez tanto sentido;
  2. A comunidade precisa de conteúdo para se manter activa, por isso há que criar acção, ser proactivo e fazer a palavra circular, reforçando positivamente as sinapses que se vão criando a partir da voz daqueles que passam a palavra;
  3. A reputação é fundamental. No meio de tanto lixo, a única maneira de separar o trigo do joio será(e vai sendo crescentemente) via mecanismos de reputação. A reputação levará o artista a emergir em meios mais massificados de divulgação por referenciamento dos fazedores de opinião. A falta dela poderá levar à fama, mas à fama pelo avesso(ou ridículo). É ténue a linha que separa um extremo do outro.

Tenho acompanhado com muita atenção as movimentações nesta revolução em curso. Temos entre nós quem aplique os pontos acima quase na perfeição(então e a página no Facebook para a malta ser fã? Todos os meus amigos vão ver! E se alguns dos meus amigos se tornarem fãs, todos os amigos deles vão ver!! É exponencial!!!).

Tenho também visto o exemplo oposto, de pessoas que pensam gerir a sua comunidade com intolerância à crítica e com dedo no gatilho, na maior parte das vezes para darem tiros no pé. Não sabem porventura que um crítico apesar de tudo é uma pessoa que se interessou por algo e se deu ao trabalho de pensar sobre isso. Não compreendem que por vezes certas imagens nossas que pensamos deturpadas são projectadas por nós mesmos por falta de cuidado ou habilidade na estratégia de comunicação.

Fica a minha reflexão e deslumbramento perante este admirável mundo novo.

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