Work



Estive há cerca de uma semana numa daquelas sessões na Igreja Baptista de S.Domingos de Benfica, que desta vez versava sobre «A Música e o Céu». Os interlocutores foram Miguel Sousa(Guel, para os mais familiares com os artistas da Flor Caveira) e João Lisboa, reputado Jornalista musical. Foi muito interessante e recomendo a toda a gente, mas não é o que me traz cá hoje.

João Lisboa foi o tradutor e actualizador do livro «SUPERSTARS - Andy Warhol e os Velvet Underground», verdadeiro dicionário enciclopédico sobre os Velvet e Warhol . O meu exemplar foi comprado em 20/11/92 e está aqui comigo a partilhar este momento.

Esse livro introduziu-me à obra magistral de Lou Reed e John Cale, «Songs for Drella». Com o livro primeiro apaixonei-me pelo tema e pelas palavras deste requiem para Warhol , que teve a sua première numa igreja(St. Ann em NYC). Só depois, e com esforço, veio a apreciação musical daqueles arranjos para guitarra e piano ou para guitarra e viola d'arco.

WORK é a quarta faixa deste álbum e é a música mais importante da minha vida. Uma lição de ética de trabalho, que me vem sempre à memória quando pareço querer fraquejar no meu empenho. Vale a pena espreitarmos o início:

Andy was a Catholic
the ethic ran through his bones
He lived alone with his mother
collecting gossip and toys
Every Sunday when he went to Church
He'd kneel in his pew and say
"It's work, all that matters is work."

Trabalho, tudo o que importa é o trabalho. São quatro minutos que percorrem toda a relação de trabalho entre Warhol e Reed, e na letra fica bem espelhada a ética de Andy Warhol (católico, que me perdoe Max Weber), uma ética honrada pelo exemplo de quem pintou porcos e desenhou séries infindáveis de sapatos para subir a pulso na grande cidade.

Reed guardou muitas amarguras de Warhol , como ouvimos na tocante «Hello is me», mas nunca esqueceu o principal:

Andy said a lot of things
I stored them all away in my head
Sometimes when I can't decide what I should do
I think what would Andy have said
He'd probably say you think too much
That's 'cause there's work that
you don't want to do
It's work, the most important thing is work


Depois da sua longa descida aos infernos, Lou Reed foi capaz de renascer das cinzas com «New York», um hino ao minimalismo e à palavra como cidadã de pleno direito do universo da música popular. Este é o rocker que ambicionou nada menos do que ser o Dostoievsky da escrita de canções. Lou, para ser Dostoievsky, não sei se só trabalho chega...mas ajuda.

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