The ones I Love
1992. Quatro estudantes numa Renault 4L. O costume: ponderar, entre a Cividade no centro de Braga onde o dono de tão pitoresca viatura habita, e o Centro de Formação onde todos estudam se é dia de faltar às aulas para ir até junto ao mar em Esposende. No rádio roufenho - a condizer com o luxo da carrinha que tinha o gasóleo gerido à gota(impressionante carrinha que tinha dois tipos de combustível: o gasóleo e a energia cinética dos seus ocupantes), - no rádio roufenho, dizia eu, uma k7 com as últimas modas, entre elas uma música muito em voga: «losing my religion». Foi o meu primeiro contacto com os R.E.M.
O tempo passou(não muito), e num canal que antigamente passava música(MTV acho que se chamava isso) existia um programa de concertos acústicos, e aí vi, como numa espécie de revelação a verdadeira grandeza dos R.E.M.
Jamais tinha sentido tal identificação com uma banda. Uma postura humilde(até pediram desculpa por terem de passar uma letra ao computador), duas guitarras acústicas, uns batuques, baixo acústico, um orgão e aqui e ali um bandolim. Das músicas, a maior parte delas desconhecia completamente, mas causaram uma explosão de emoções e imagens em mim(apesar de não perceber da missa a metade, no que às letras dizia respeito). Revi esse concerto umas cem vezes e esfolei os dedos as vezes suficientes até aprender a tocar as músicas, essas que ainda me transfiguram ao escuta-las.
Desse unplugged viajei no tempo até ao passado dessa banda que já tinha surpreendentemente dez anos de estrada. Os R.E.M. dos anos 80 são uma banda indie cheia de grandes canções e com o único guitarrista capaz de competir com Johnny Marr. Os R.E.M. dos anos 90 são uma super banda lutando para se afastar do âmbar agridoce da fama. Adoro os cinco álbuns da mesma forma, todos encerram uma parte da verdade da banda, e uma postura sempre honesta para com os seguidores. Com os R.E.M do novo milénio sinto-me o mais próximo possível do estado de espírito de um benfiquista: o próximo álbum é que vai ser, mas parece-me que tem sido sempre a descer, e eu não quero aceita-lo. Acho que já não são uma banda.
Curiosamente vejo algum daquele espírito R.E.M. em novas bandas que vão aparecendo aqui mesmo no nosso cantinho: ousadia e trabalho, muito trabalho. Pode ser que me vão preenchendo este vazio imenso que os R.E.M. me deixaram.
Mas no próximo álbum eles vão renascer...
Assino por baixo.
ResponderEliminar